Se juntarmos todos os dados mais recentes e disponíveis sobre a indústria brasileira não há como duvidar: o setor já respira sem ajuda de aparelhos. Mas daí a sair andando para dar volta no corredor do hospital é outro estágio de recuperação, ainda distante. Segundo o IBGE, a produção industrial cresceu 1,1% em junho, o melhor resultado para o mês desde 2013. Bom, mas muito longe do ótimo. A indústria ainda está 18,4% menor do que o nível recorde alcançado exatamente há 3 anos. Mesmo com resultado positivo de junho passado, a estatística continua muito desfavorável ao setor.
A confiança dos empresários entrou numa rota ascendente, o que também é bom e é o melhor indicativo de que o setor tenha já saído da zona maior de risco. A utilização da capacidade instalada também “mexe os dedos” e melhora na margem, segundo a Confederação Nacional da Indústria. Porém, pelas previsões da entidade, em 2016 a ociosidade dos parques industriais será a pior em 15 anos! Quase 40% das máquinas e equipamentos está parada gerando custos além das perdas na produção. O levantamento da CNI é um fardo de baldes de gelo no alívio com resultado de junho: horas trabalhadas, emprego, massa salarial, está tudo caindo na casa dos 9% neste primeiro trimestre.
O problema não está só nos pátios. O índice de inadimplência corporativa está altíssimo, segundo o Serasa Expirian. Das empresas instaladas no país, mais da metade está com contas atrasadas, sendo 9% delas do setor industrial. Muitas não aguentaram o tranco e entraram com pedidos de recuperação judicial – indicador que apresenta alta de 7% este ano. O setor com mais dificuldade é o de micro e pequenas empresas, com mais da metade das empresas nesta situação. No levantamento sobre médias e grandes companhias, a opção pela recuperação judicial também disparou.
Então, o que comemorar? Quase nada e muita coisa. A confiança está voltando, já sabemos. A produção de bens de capital – que antecipa a retomada e é investimento na veia – está sem alta há pelo menos cinco meses seguidos. Outro ponto bem favorável é o da balança comercial que apresentou um mega saldo positivo no primeiro semestre deste ano: o melhor em 28 anos, com superávit de US$ 28,23 bilhões. Segundo análise do IEDI – Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, “quem diria, o setor é a matriz do ajuste externo”.
O comércio exterior dos produtos manufaturados no primeiro semestre de 2016 teve um déficit de US$ 2,8 bilhões, o que representa apenas 10% do que aconteceu no mesmo período do ano passado quando a diferença estava negativa em US$ 23,5 bilhões. “Isso significou uma contribuição da indústria de transformação de US$ 20,7 bilhões para o crescimento de US$ 21,4 bilhões do superávit total da balança comercial do país (97%!) entre o primeiro semestre de 2015 e o de 2016. O restante, US$ 0,7 bilhão, foi a contribuição de outros produtos (principalmente commodities agrícolas e minerais)”, diz a Análise IEDI do dia 1o de agosto.
Moreira Franco, secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), alertou pelas redes sociais que “o Brasil ainda não chegou ao fundo do poço. Ainda vai piorar, mas com menos velocidade e, sobretudo, tendendo a estabilizar”, disse. Para não ficar mais pessimista que os maiores pessimistas, Franco emendou: “pelo menos agora temos o túnel. Antes nem isso tínhamos”. A indústria brasileira não constrói o túnel sozinha, mas faz o cimento, os trilhos e, principalmente, o trem.
Fonte: site de noticias G1